Prova Hertzberger: complexo dos corredores
"Lições de Arquitetura" por Herman Hertzberger
Tamires Barbosa Amaral - Complexo dos corredores
Segundo Hertzberger, a arquitetura não pode ser outra coisa senão o interesse pelo cotidiano. A partir daí, tivemos como objetivo trazer os sentimentos pessoais sobre os corredores escolhidos e colocar tais nas intervenções, tentando fazer com que os espaços se tornassem uma atmosfera autêntica e não somente um lugar característico de passagem.
No primeiro corredor, o das janelas, nos apropriamos de estruturas quadradas e retangulares em alturas diferentes. Essas podem ser utilizadas para sentar, se apoiar, colocar objetos, lanchar ou até mesmo fazer uma exposição artística ou de livros, por exemplo. Além disso, acrescentamos som a tais; basta apoiar algo sobre os suportes que se tem uma música ambiente -ruídos da natureza e outros toques. Para mudar o som é só mudar a configuração espacial em que se encontram os suportes. No entanto, essa é apenas uma opção, a partir da treliça lateral presente consegue-se suprimir os ruídos.
O segundo corredor conta com um sistema de pedras que se movimentam para cima e para baixo à medida que ocorrem barulhos no ambiente, capazes de transformar a altura do corredor. Se adapta a uma variedade de maneiras e permanece fundamentalmente a mesma.
Já o terceiro corredor possui tapetes triangulares -condicionados também de forma triangular- que possuem articulações internas para que possam assumir outros aspectos. Trata-se de uma série de tapetes que assumem apresentações abundantes de acordo como são colocados.
A escolha por essas estruturas se deu porque não queríamos algo óbvio em sua funcionalidade, pensamos em abranger as diversas interpretações individuais, uma vez que a forma não apenas determina o uso e a experiência, mas também é interpretável. Assim, tivemos como objetivo que as intervenções possuíssem uma forma intrínseca com competência para desempenhar funções diferentes em situações diferentes, sem ter a diminuição da influência do indivíduo no processo como um todo.
Forma convidativa. No primeiro e terceiro corredores, há o “potencial de acomodação”, ou seja, tem-se uma expansão das possibilidades, as pessoas usam seu ambiente em cada situação da melhor forma que podem. Os objetos e o espaço são receptivos a diferentes usos e, ainda, desconciliam a forma de seus significados pré-estabelecidos, suas proporções possibilitam o aproveitamento de maneiras distintas do espaço delimitado, possuem articulação. São, assim, confortáveis e estimulantes. Os níveis diferentes das estruturas no corredor das janelas aumentam a gama de possibilidades. Além disso, a capacidade de tocar ou não o som ambiente que sai das estruturas quando se usa tais, dá ao usuário a escolha. Os tapetes chamam a atenção para um espaço que geralmente não despertava atenção e, por ser estruturado para ser maleável, se ajusta bem ao seu desejo. O sistema de pedras, assim como os tapetes, também cria um espaço habitável entre as coisas, já que desperta a atenção para o corredor de uma forma diferente do que como originalmente é visto, aonde é apenas de passagem. Além disso, possui o que o autor escreve como plasticidade, uma vez que, como a sua forma é produzida pelas mudanças de sons que ali ocorrem, dificilmente as pessoas conseguirão fazer as mesmas formas várias vezes, permite variabilidade de experiências físicas e visuais. No entanto, esse não mostra uma união tão ampla entre o belo e o útil como os outros; possui uma função mais específica. Todas as intervenções construídas não impõem o contato social, mas também não o inviabilizam, na própria interação com os objetos pode haver o convívio.
Urdidura e trama. As intervenções possuem uma tentativa de criar condições para uma exploração eficaz do espaço. Elas fornecem as linhas gerais que suscitam maneiras de despertar as pessoas, ou seja, são estruturas -urdidura- que criam a oportunidade da diversidade das maneiras individuais de expressão –trama. Em contrapartida, as pedras penduradas no segundo corredor, constitui-se um esteio da tecnologia moderna, como é citado no livro em questão.
Devido a essa diversidade criada no complexo, em dado momento pode parecer que tudo isso gere o caos, no entanto, é esse mesmo caos que torna o complexo rico. Assim, caos e ordem, apolíneo e dionisíaco, parecem necessitar um do outro.
Devido a essa diversidade criada no complexo, em dado momento pode parecer que tudo isso gere o caos, no entanto, é esse mesmo caos que torna o complexo rico. Assim, caos e ordem, apolíneo e dionisíaco, parecem necessitar um do outro.
Funcionalidade, flexibilidade e polivalência. As estruturas do primeiro corredor se encaixam no conceito de polivalência descrito pelo autor, pois se prestam a diversos usos sem a necessidade de que haja mudança nelas e há a garantia de usos adicionais. Os tapetes também convidam às investigações distintas de uso, abrem possibilidades, no entanto, há um quê a mais de flexibilidade, já que permitem diversas soluções sem prevalecer apenas uma definida por causa da mudança dos objetos. Já o sistema do segundo corredor cria uma solução que trabalha com maior especificidade, algo que limita as possibilidades de adaptação do espaço no tempo, de modo a se tornar obsoleto e disfuncional.
Articulação entre o público e o privado. A principal interpretação, dita no livro, sobre os temos de público e privado é a de coletivo e individual, respectivamente. Levando em consideração essa forma de pensar, as intervenções dos três corredores são acessíveis a todos, podem ser utilizadas por qualquer um. Não há uma polarização de individualidade exagerada nem coletividade exagerada, mas uma inter-relação de pessoas e grupos, um sentimento de compromisso mútuo. Agora, tendo em mente o público e privado na questão espacial, o primeiro corredor é o único aberto a qualquer um, pois todos os visitantes do instituto podem passar por ali. Já os outros dois corredores do complexo são restritos apenas aos que ficam hospedados na casa, o que dá a esses uma maior responsabilidade e forma de supervisão sobre tais.
Irregularidades. As irregularidades se fazem presentes nas intervenções propostas a partir diferença de alturas, larguras, formas e movimentação. Nos primeiro e segundo corredores, tais tamanhos distintos estimulam as pessoas a fazerem o seu uso constante no cotidiano justamente por não possuírem uma funcionalidade exata, pois assim o usuário se sente à vontade para utilizar-se da forma de acordo com seus desejos. Por não ditar a forma que deve ser utilizado, os objetos têm uma chance maior de escolher aquilo que mais necessita em dado momento, sem se prender às associações já intrínsecas. Devido a esse estabelecimento ser informal, o contato pode facilmente se estabelecer ou não, pois há a possibilidade de se retirar quando quiser. Ademais, as funções tecnológicas são também irregulares. No primeiro corredor, dependendo da distância entre as estruturas e elas estarem ou não recebendo um peso sobre si, o som ambiente produzido se diferencia. No segundo a irregularidade é ainda mais evidente já que as pedras dispostas no teto variam suas posições de acordo com ruídos.
Gradações de demarcações territoriais. A gradação de público para privado nos corredores se dá por um meio legislativo, em que os corredores que possuem os quartos de hóspedes e banheiros são restritos. Contudo, nessa norma estabelecida é possível notar que foi criada justamente por uma convenção social, a de que os espaços em que se encontram os ambientes para descanso e aonde estão os pertences pessoais devem ser o mais íntimo possível. Um meio arquitetônico que marca essa limitação é a porta, que faz total diferença de acordo com sua disposição: quando está aberta não dá a sensação de ser a entrada de um local restrito como quando ela está fechada ou até mesmo descerrada.
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